Pesquisadores avaliam que podem ser capazes de usar a genética que levou peixes a evoluírem órgãos elétricos para também desenvolver soluções específicas para doenças humanas
A cena, comum em diversas representações na sociedade, como em desenhos animados, é tão familiar no imaginário popular que nem causa espanto: enguias elétricas que, para não serem capturadas, causam choque em suas vítimas, ou produzem correntes elétricas para abater suas presas. Mas você sabia que elas também usam a eletricidade para se comunicar e reconhecer outros peixes?
E as enguias não são os únicos peixes elétricos no mar: existem várias outras espécies com propriedades similares, e biólogos muitas vezes se perguntam sobre essa peculiaridade evolutiva. Para desvendar a questão, pesquisadores da Universidade do Texas, que fica em Austin, nos Estados Unidos, analisaram a genética desses animais para descobrir como alguns peixes evoluíram de forma a ter órgãos elétricos.
Através dessa análise, a equipe de pesquisadores descobriu que a adaptação da eletricidade tinha a ver com algo chamado "gene do canal de sódio", conforme a The Optimist Daily. Todos os peixes têm duplicatas desse gene, o que permite que os músculos se contraiam. Peixes elétricos tornaram-se elétricos desligando uma das duplicatas do gene do canal de sódio nos músculos e mantendo-o ligado em outras células. O estudo afirma que com o tempo os músculos que teriam se contraído passaram então a gerar eletricidade, e o órgão elétrico se desenvolveu.
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"Isso é emocionante porque podemos ver como uma pequena mudança no gene pode mudar completamente onde uma característica é expressa", afirmou Harold Zakon, professor de neurociência e biologia integrativa da Universidade do Texas e um dos autores do estudo, publicado na revista Science Advances.
Zakon e sua equipe encontraram a pequena seção do código genético responsável por ativar e desativar o canal. No peixe elétrico, os autores descobriram, essa seção do código está danificada ou totalmente ausente.
"Esta região de controle está na maioria dos vertebrados, incluindo humanos", garante Zakon. "Então, o próximo passo em termos de saúde humana seria examinar essa região em bancos de dados de genes humanos para ver quanta variação existe em pessoas normais e se algumas mutações nessa região podem levar a uma expressão reduzida de canais de sódio, o que pode resultar em doença", completa ele.
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