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quinta-feira, 29 de abril de 2021

Drauzio Varella: Bolsonaro é o maior responsável pela disseminação do vírus no Brasil


Por Giulia Affine, da Agência Pública – Colocar os direitos dos pacientes em primeiro lugar é o que o Dr. Drauzio Varella vem fazendo ao longo de seus mais de cinquenta anos de profissão. Médico oncologista formado pela Universidade de São Paulo, ele foi um dos primeiros a se dedicar ao tratamento da AIDS no Brasil, fazendo campanhas de prevenção e esclarecimento veiculadas no rádio. Durante décadas, ele atuou – e ainda atua – como médico voluntário junto à população carcerária em São Paulo. Hoje, em meio à pandemia, ele afirma que médicos não têm direito de prescrever remédios ineficazes contra o coronavírus, pois isso fere a ética da profissão.

“Eu sou oncologista, então eu tenho direito de usar uma droga que não tem efeito na doença daquele paciente? Esse é um direito meu? E o direito do doente? [O doente] que está recebendo uma droga que não vai acrescentar nada e poderá juntar efeitos colaterais. O médico não tem esse direito, não. O médico tem que se basear na melhor informação científica disponível para adaptá-la para aquele paciente”, diz.

Escritor e comunicador, Dr. Drauzio dedicou boa parte da sua vida profissional à divulgação de ciência e informação sobre saúde para a população, primeiro no rádio, depois na televisão, e hoje também na internet. É por isso que ele se diz decepcionado ao ver que um vídeo seu – gravado antes do coronavírus se alastrar pelo mundo, em que ele diz que a Covid seria um “resfriadinho” na maioria dos casos – foi usado por membros do governo federal para minimizar a pandemia e propagar desinformação. “É uma coisa tão baixa”, critica. “E é destinada a fazer o quê? A confundir a população. A justificar os absurdos que o Presidente da República fala – e não é que ele falou em janeiro do ano passado, quando a epidemia não estava aqui. Ele fala até agora. Passou um ano inteiro confundindo a população, dando exemplo pessoal de como você faz para facilitar a disseminação do vírus. Isso sim é um crime que não pode ficar sem punição.”


Aos brasileiros que estão desanimados e desiludidos, ele tem um recado claro: “Nós temos que resistir.” Ele conta que ouvia histórias de sua avó, que no início do século XX sobreviveu à gripe espanhola no Brasil numa época em que as famílias não tinham nem rádio em casa. “Hoje, uma parte expressiva da população fica em casa com televisão, com internet, se falando pelo zoom, e a gente vai dizer que não aguenta mais? Tem que aguentar. Sai, máscara, volta. Não se aglomera, não fica se juntando com os outros, não é a hora, não vai ser assim pra sempre. Vai passar. Nós estamos vivendo os piores momentos, e agora é a hora que a gente tem que sobreviver, porque senão a gente não deixa descendentes, né?”

O senhor afirmou que o presidente Bolsonaro é o grande responsável pela disseminação da pandemia no Brasil. Quais foram os principais erros que ele cometeu?

Bom, eu acho que ele é o principal, mas não é o único. Há muita gente responsável, inclusive esses meninos de classe média que se metem nos bares, que organizam festas clandestinas, e outras autoridades que também negaram as medidas de proteção da sociedade.


Mas ele é o maior responsável por uma razão muito simples: é o presidente da República, autoridade máxima do país, que detém o controle do Ministério da Saúde. Quem é que tinha que coordenar todo o esforço de combate à epidemia? Era o Ministério da Saúde. Quem nomeou os ministros da Saúde? Foi ele. Então, ele é o maior responsável, não há como fugir dessa responsabilidade.

Nós tínhamos que ter aprendido uma lição fundamental na epidemia da AIDS: você só combate a epidemia quando tem uma coordenação central, uma autoridade que chama para si a responsabilidade de adotar as medidas mais sensatas de acordo com a opinião dos técnicos e da ciência, que é o único recurso que a gente tem.

No caso da Aids, quando começamos a ter drogas altamente eficazes, a partir de dezembro de 1995, o Ministério da Saúde assumiu a liderança, juntou um grupo de jovens técnicos, sanitaristas, infectologistas, e disse o que nós tínhamos que fazer, que era distribuir medicamentos para todos [os pacientes]. Na época, essas drogas custavam muito caro, saíam na faixa de dois, três mil dólares por mês. Vê o tamanho do desafio? Nós fomos pra cima dos fabricantes das drogas, pra cima das multinacionais, quebraram patentes, negociaram o preço, e conseguiram 90% de abatimento. Drogas que custavam cem passaram a custar dez pro governo e aí foi possível combater a epidemia.

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