Independência nas ruas: Salvador celebra a democracia




O 7 de Setembro sempre foi mais do que uma data no calendário: é o lembrete vivo de que a soberania não se herda, mas se conquista e se preserva a cada geração. Nas ruas de Salvador, a Independência se fez presente não apenas nos uniformes alinhados dos militares ou nas bandeiras tremulando ao vento, mas, sobretudo na força de um povo que sabe que liberdade e democracia são pilares inseparáveis da verdadeira independência.
Foi nesse espírito que milhares de baianos ocuparam o centro da cidade, ontem, transformando o tradicional desfile cívico-militar e o Grito dos Excluídos em um grande manifesto de fé na democracia, de memória contra o autoritarismo e de esperança em um futuro mais justo.
Desde as primeiras horas da manhã que baianos acompanham, entre o Campo Grande e a Praça Castro Alves, o tradicional desfile da Independência do Brasil. A programação começou cedo, às 7h20, com a recepção das autoridades civis e militares. Neste ano, a Marinha do Brasil assumiu a coordenação geral do evento, mobilizando cerca de dois mil militares, viaturas e tropas das Forças Armadas e das forças auxiliares.
Às 7h50, o comandante da 6ª Região Militar, general de Divisão André Luiz Aguiar Ribeiro, e o comandante do 2º Distrito Naval, vice-almirante Gustavo Calero Garriga Pires, realizaram a tradicional revista das tropas. Em seguida, às 8h45, ocorreu o hasteamento das bandeiras do Brasil, da Bahia e de Salvador. O desfile começou pontualmente às 9h, atraindo famílias inteiras, escolas, veteranos e curiosos que lotaram as calçadas do Centro da capital baiana.


O desfile impressionou pela imponência. Ao som das bandas marciais, as tropas marcharam em formação impecável, acompanhadas por viaturas, carros blindados e pelotões que despertaram a atenção de crianças e adultos. A vibração das bandeiras e o ritmo marcado dos tambores trouxeram ao Centro de Salvador uma atmosfera solene, em que a história do país parecia reviver diante dos olhos da multidão. “É de arrepiar ver tanta organização e disciplina. A gente sente orgulho de ser brasileiro quando vê nossas Forças Armadas desfilando dessa forma”, disse o aposentado José Raimundo, que assistiu ao cortejo com a esposa e os netos.
Entre aplausos e olhares atentos, famílias inteiras se emocionaram com a passagem das delegações militares e estudantis. O encontro de gerações reforçou o simbolismo do ato cívico, unindo tradição e futuro. “Trago meus filhos todos os anos porque acredito que eles precisam entender o valor da independência e da democracia. Não é apenas um desfile, é uma aula de cidadania”, afirmou a pedagoga Luciana Santos, que acompanhou a cerimônia desde as primeiras horas da manhã.
Embora o desfile militar tenha mantido a solenidade das cerimônias oficiais, o 7 de Setembro de 2025 também é marcada pela apropriação popular. Faixas, cartazes e palavras de ordem lembraram que a independência não pode ser reduzida a um marco do passado, mas deve ser constantemente atualizada como compromisso coletivo.
“Ditadura nunca mais” e “sem anistia” foram os gritos que ecoaram por diferentes pontos do percurso. Grupos organizados, estudantes e militantes de movimentos sociais reforçaram que a democracia é fruto de conquistas populares e que qualquer tentativa de ruptura deve ser respondida com firmeza.
“Foi emocionante ver a multidão vibrando com o desfile e, ao mesmo tempo, afirmando que a democracia não pode ser colocada em risco. Esse é o verdadeiro sentido do 7 de Setembro”, disse a professora aposentada Maria Helena, que esteve na Praça Castro Alves acompanhada dos filhos e netos.



Grito dos Excluídos toma as ruas
Enquanto as bandas marciais ecoavam pelo asfalto, Salvador também se tornou palco do 31º Grito dos Excluídos, manifestação nacional realizada todos os anos no Dia da Independência para denunciar desigualdades e reivindicar direitos sociais.
Com o tema “Vida em primeiro lugar: democracia, direitos e justiça social”, o ato reuniu pastorais, sindicatos, coletivos e moradores de comunidades periféricas. O cortejo percorreu ruas do Centro histórico, com faixas que pediam moradia, trabalho digno, segurança alimentar, proteção ambiental e respeito às populações vulneráveis.
“Não se constrói democracia só com voto. Democracia é pão na mesa, é moradia digna, é trabalho justo. O grito que damos aqui é para lembrar que o povo precisa ser ouvido todos os dias, e não apenas em datas eleitorais”, afirmou Simone Oliveira, integrante de um movimento de trabalhadores sem teto.
O encontro entre o desfile oficial e o Grito dos Excluídos transformou o 7 de Setembro em uma celebração plural. De um lado, o peso histórico das instituições; de outro, a voz dos que exigem que a independência também se traduza em justiça social.


Foto: Romildo de Jesus/Tribuna da Bahia

Entre os pontos mais destacados no Grito esteve a exigência de responsabilização pelos crimes cometidos contra a democracia. Em diversas falas e cartazes, ficou evidente a recusa em aceitar qualquer tipo de anistia para os envolvidos em atos golpistas.
“Não se constrói paz sem justiça. O Brasil precisa dar uma resposta clara: não há espaço para golpe, para ataques às instituições ou para tentativas de silenciar o povo”, declarou João Santos, estudante de Ciências Sociais que participou do ato no Campo Grande.
A lembrança dos eventos de 8 de Janeiro de 2023, em Brasília, ainda ressoava entre os manifestantes. Para eles, somente com a punição dos responsáveis será possível consolidar a democracia como valor permanente e não negociável.


                             Foto: Romildo de Jesus/Tribuna da Bahia

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