‘Chapa dos governadores’ cai por terra mais cedo do que o esperado, por Raul Monteiro*




As notícias no campo jurídico, envolvendo a possibilidade de arquivamento do caso dos respiradores na Bahia, que o atormenta desde a pandemia, podem ser muito boas para o ministro Rui Costa (Casa Civil), mas na seara política parecem longe de ser positivas. Faltando um ano e um mês para as eleições estaduais, tudo indica que dificilmente ele conseguirá vencer a disputa com o senador Angelo Coronel (PSD) pela vaga de candidato ao Senado na chapa do governador, o que joga por terra, além de um sonho pessoal antigo, a proposta da alegada “imbatível chapa dos governadores”, na qual figurariam ele, Jaques Wagner e o próprio Jerônimo Rodrigues (PT).
A ideia de que Wagner poderia abrir mão de concorrer à reeleição para assumir a coordenação da campanha do presidente Lula no ano que vem, conforme assinalado aqui mesmo neste espaço, se desfez nos últimos dias. Incentivado pela família e no PT, o senador tem dito que está muito bem adaptado ao Senado e que não abre mão de concorrer de novo no ano que vem à mesma posição. Caso sua retirada se concretizasse, seria a mão na roda ao mesmo tempo para o PT e o PSD, porque desta forma Rui poderia entrar na disputa ao Senado em seu lugar, abrindo espaço para Coronel concorrer à reeleição sem necessidade de qualquer negociação entre eles.
Como Wagner manda no partido na Bahia e domina o núcleo político do governo, portanto, quem acabará dando as cartas sobre a composição da chapa de Jerônimo é ele. Neste jogo, não cabe Rui. Mesmo porque o grupo não pode prescindir neste momento, e possivelmente quando chegar a hora da eleição, menos ainda, do apoio do PSD de Otto Alencar e de Coronel à reeleição de Jerônimo. Ninguém consegue prever o que advirá da queda de braço entre Lula e o presidente dos EUA, Donald Trump, cuja porta-voz ameaçou usar até o poderio militar contra o Brasil se Jair Bolsonaro for condenado pelo STF, muito menos como a disputa internacional repercutirá em sua popularidade.
A dia de hoje, no entanto, já se sabe que os índices que o presidente ostenta na Bahia, embora tenham melhorado, ainda inspiram cuidado e que Jerônimo, por opção própria, não tem se mostrado apto a cumprir o papel de zelador do legado presidencial no Estado, colocando-se, voluntariamente, mais na posição de quem precisa de ajuda de Lula do que de alguém que pode ajudá-lo por estas bandas. Num cenário desses, em que a ideia da continuidade do governo pode ser colocada em xeque pelo eleitorado, melhor para o PT buscar fortalecer aliados importantes como o PSD, contemplando um quadro como Coronel, do que abrir divergências arriscadas.
Ciente de que não pode contar com a benevolência petista, mas precisa trabalhar para impor seu nome na mesa de negociação, Coronel cumpre, junto com os dois filhos deputados, agenda intensa no interior, onde prioriza o contato direto com prefeitos, certo de que eles podem contribuir de forma inestimável para tanto alavancar seu nome nas pesquisas quanto fazer chegar sua candidatura aos rincões do Estado. Rui, por sua vez, vai ter que se contentar com um destino que atrapalha seus planos de chegar ao Senado desde 2022, podendo, no máximo, recorrer a uma eventual intervenção de Lula por sua candidatura, cujo efeito, no entanto, será incerto.
* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
Raul Monteiro*

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