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Jean Paul Prates devolve a Petrobrás aos brasileiros


A história da industrialização brasileira e a trajetória da Petrobrás têm muitos pontos em comum. Os objetivos estratégicos do País e os projetos da empresa em vários momentos da vida nacional se entrelaçaram em favor do povo brasileiro. É impossível descrever o desenvolvimento do Brasil sem falar do legado de sua mais pujante estatal.

Quando o presidente Getúlio Vargas, em 1953, criou a empresa, o País estava imerso num ambiente de mobilização crepitante em defesa de um projeto desenvolvimentista. A Petróleo Brasileiro S.A, a nossa Petrobrás, nasce sob o signo daquele momento histórico, envolta aos postulados nacionalistas da campanha “O Petróleo é Nosso” e arraigada ao compromisso de defender e induzir o desenvolvimento nacional.

Ao longo destes 70 anos, de modo geral, a companhia cumpriu esse pacto tácito com o povo brasileiro. Honrou a sua origem, desempenhando papel relevante no fomento à industrialização do país. A descoberta do pré-sal em 2007, no governo do presidente Lula, e depois, sua exploração, com tecnologia pioneira para águas profundas, são exemplos cabais e definitivos. À época, céticos de plantão profetizaram descrença na capacidade do negócio, alegando inviabilidade econômica. A Petrobrás os fez calar, extraindo o óleo há mais de 7 mil metros de profundidade.

Em alguns períodos, contudo, tentaram desvirtuá-la, afastando-a do leito natural de sua trajetória reta e incisiva de defesa do progresso com independência. A mais sombria tentativa de sequestro de suas bandeiras históricas se deu sob a gestão Bolsonaro/Guedes.

Os títeres do Planalto atuaram na empresa como saqueadores do patrimônio nacional, dando curso a alienação de bens estruturantes, refinarias e gasodutos, em negócios escusos, sob a justificativa, tão cínica quanto criminosa, de reduzir custos e aumentar lucros. Neste período, a estatal se apartou dos brasileiros, passando a operar com o único propósito de aumentar os dividendos dos acionistas.

As consequências foram desastrosas: a indústria naval sucumbiu, soçobrando em meio a irresponsabilidade criminosa dos gestores da estatal. E os empregos foram transferidos para a Ásia, onde a empresa passou a contratar. Não foi só isto: o País viu aumentar sua dependência externa com a estúpida decisão de preferencialmente exportar óleo bruto e importar derivados. O refino deixou de ser prioridade. A empresa mergulhou no paradoxo do crescimento da produção de barris com dependência cada vez maior de importação de gasolina e diesel – em busca, talvez, de uma autossuficiência fake, ao gosto e ao estilo dos predadores da soberania nacional.

Capturada por negocistas despudorados, a Petrobrás interrompeu sua própria história; fragmentou a linha de coerência em que se desenvolveu por sete décadas, renegando a índole nacionalista que lhe conferira respeito e credibilidade ao longo do tempo. Tornou-se um relés instrumento para produzir lucros, sem qualquer outro compromisso com os brasileiros. Um acinte ao Brasil, um agravo à memória de Getúlio Vargas.

A nomeação de Jean Paul Prates marca a volta da Petrobrás a seu leito natural. Recoloca a companhia em sua trajetória de atuação coerente com a preservação dos lucros – fenômeno natural do capitalismo – e, ao mesmo tempo, com a defesa do desenvolvimento nacional soberano.

Em poucos meses, Paul Prates mudou, sem sobressaltos, a política de preços, trocando o PPI por um conjunto de variáveis que leva em conta não só o preço internacional como também fatores internos como custo de produção e as demandas do mercado nacional. Resultado: o preço da gasolina já foi reduzido em mais de 15%, o do diesel em 32% e o do gás de cozinha em 22%.

A paridade internacional só faria sentido numa empresa exclusivamente privada. A Petrobrás é uma estatal de capital misto, portanto, precisa sim contemplar os lucros desde que preservados os interesses nacionais.

A choldra bolsonarista implantou um modelo de governança sórdido. Reduziu ao máximo os investimentos, alienou bens estratégicos e, assim, aumentou exageradamente o lucro dos acionistas, visando, obviamente, à privatização a curto prazo. É falso acreditar numa suposta eficiência nestes movimentos. A rigor, o que houve foi um saque ao patrimônio nacional em ações dissimuladas de gestão com a produção de lucros exorbitantes, a partir da queima de ativos estratégicos.


O caso dos gasodutos é eloquente e resume o modus operandi da organização criminosa que se apoderou do comando da empresa sob Bolsonaro. Construídos nos governos Lula e Dilma, os dutos interligam o país de Sul a Norte e foram vendidos por R$ 36 bilhões. Hoje, a empresa já pagou mais do dobro deste valor pelo aluguel da rede de gasodutos que ela própria construiu. Descalabro é eufemismo.

Na retomada dos interesses dos brasileiros na gestão da companhia, o próximo passo é reduzir parte dos lucros distribuídos para possibilitar mais investimentos. Aplicar fração da dinheirama em novos projetos, diversificando a matriz energética, é a garantia da sustentabilidade dos ganhos pelas próximas décadas.


A guinada de volta à gestão responsável já começou. O refino é novamente estratégico nas decisões da diretoria. Com a operação plena das refinarias – pasmem, elas operavam propositalmente com capacidade ociosa – e alguns projetos de ampliação, especialmente da Refinaria Abreu Lima, em Pernambuco, a Petrobrás vai crescer sua produção de derivados o equivalente a duas Reducs. Ou seja, com alguns rápidos movimentos teremos um incremento de produção correspondente ao dobro do volume da refinaria de Duque de Caxias.

A retomada do Comperj nos moldes originais é outro desafio que se impõe à atual direção. A ampliação da Abreu Lima e a conclusão do complexo de Itaboraí foram descontinuados após a ação insidiosa da Lava Jato de Moro, Dallagnol at caterva, à serviço de interesses transnacionais contrários à afirmação da Petrobrás como player de primeira grandeza no ranking mundial. Recuperá-los é dever moral do governo do presidente Lula.


O grande desafio de Paul Prates é provar aos brasileiros e aos acionistas que é possível administrar a Petrobrás compatibilizando lucros e responsabilidade na indução do desenvolvimento nacional. Este é o papel de uma empresa de capital misto: gerar resultado para os investidores e progresso com independência para o País.

A Petrobrás é sim dos acionistas mas, para além das ações do mercado de capitais, a empresa é dos brasileiros. Sua criação resulta de uma antológica mobilização popular: o sonho coletivo de um Brasil próspero e soberano. Setenta anos depois, o sonho não esmoreceu. Jean Paul Prates tem a responsabilidade histórica de resgatá-lo.

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