O ex-ministro da Saúde Arthur Chioro alertou para a gravidade da situação epidemiológica do país. Ele diz que o relaxamento do isolamento social vai levar ao aumento do contágio e que as perspectivas de saída da crise estão distantes. “Viveremos ainda cenas muito trágicas no país, dada a negligência, a irresponsabilidade e a conduta criminosa do governo federal”
O ex-ministro da Saúde Arthur Chioro alertou que a crise epidemiológica brasileira está se agravando por conta da irresponsabilidade do presidente Jair Bolsonaro. O número de mortos pode chegar a 1 milhão de pessoas nos próximos meses, diante da possibilidade de relaxamento da quarentena que vem acontecendo.
Chioro, que é médico sanitarista, condenou a estratégia de enfrentamento do governo Bolsonaro, que não promoveu testes amplos quando era possível, no início da pandemia. Agora, o país não tem dados precisos sobre a contaminação.
Ele diz: “a subnotificação mascara a realidade: o número de contagiados é muito maior do que os dados oficiais, com a taxa de mortalidade atingindo 7% (...) Os casos considerados leves, assintomáticos e que representam 85% não estão contidos entre os casos confirmados.”
O ex-ministro estima que o país tenha hoje entre 800 mil e 1 milhão de brasileiros infectados pelo Covid-19.
Ele responsabilizou a gestão de Henrique Mandetta pela não realização de testes em massa, limitando o foco a casos graves. O Brasil fez apenas 339.552 testes, o que dá 1.597 para cada milhão de habitantes. Em Portugal, são 37.223 testes por milhão de pessoas.
Mais uma vez, Arthur Chioro avisa: “não chegamos ainda ao pico do contágio. Estamos ainda no início, na 18ª semana de contágio e o pico será na 24ª semana, no final de maio e começo de junho (...) Se não houver um isolamento severo, o número de óbitos pode superar 1 milhão de casos.”
O diagnóstico foi feito pelo ex-ministro ao Diretório Nacional do PT, por videoconferência, na manhã de quarta-feira (29), num encontro virtual que contou ainda com a presença dos ex-ministros da Saúde José Gomes Temporão, Humberto Costa e Alexandre Padillha, além dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
O ex-ministro Temporão concordou com a análise de cenário de Chioro, e lembrou que o número de óbitos dobra a cada cinco dias, enquanto nos Estados Unidos, Espanha e Itália, dobrava a cada seis dias. “O mês de maio vai ser dramático”, alertou, para advertir, em seguida: “A disseminação vai afetar mais diretamente os mais pobres”.
Temporão também denunciou o processo de interiorização da pandemia. “Os municípios com população entre 50 mil e 100 mil habitantes, 80% das cidades já têm casos confirmados de Covid-19”, disse. “À medida que a doença vai se instalando em municípios menores, a demanda para as regiões pólo vai aumentar cada vez mais, ampliando a pressão da rede pública de saúde. “Não há outra saída, diante da falta de vacina e remédio, que manter o isolamento social”, recomendou o ex-ministro da Saúde.
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